Comentando a Palavra de Deus – Sexto Domingo do Tempo Pascal
O Sexto Domingo do Tempo Pascal remete-me à minha Ordenação Diaconal, pela imposição das mãos de Dom Romeu Alberti, na Igreja do Anjo da Guarda da Universidade Católica de Eichstätt, na Alemanha em 1987. É, portanto, meu aniversário litúrgico de Ordenação Diaconal, já que naquele ano o mesmo Domingo foi dia 24 de Maio, Aniversário de Ordenação Episcopal do saudoso e bom pastor, Dom Romeu Alberti, que me acolheu com incomparável misericórdia na Arquidiocese de Ribeirão Preto. Interceda ele por nossa Igreja particular, pela qual doou sua tão breve vida, silenciando o tempo todo de seu ministério episcopal sua leucemia. Para mim, Dom Romeu é um grande santo junto á Corte Celestial.
Durante o Tempo Pascal, que equivale a um Grande Domingo, a herança deixada por Jesus aos discípulos vem sendo celebrada. O amor de Cristo que reúne e une a comunidade de fé é a herança. Ela se sustenta na escuta da Palavra de Jesus que é Palavra do Pai para nós.
A Igreja nasce do lado de Cristo, como nos fala a Sacrosanctum Concilium número 5, como um Sacramento Pascal. Nela, é possível visualizar o amor profundo daquele que dá a vida pelos seus amigos. Chegando ao fim do tempo de ouro para a Igreja, é preciso que estejamos convencidos da importância deste amor e, sobretudo que estejamos abertos à sua experiência num mundo cada vez mais marcado pela intolerância e pelo medo.
Dom Joviano de Lima Júnior, sss, nosso saudoso Arcebispo insistia no Projeto SIM – Ser Igreja em Missão, de que precisaríamos acolher mais do que enxotar as pessoas que nos buscam. O amado Papa Francisco também afirmou de que nossa Igreja não pode ser reduzida a uma “ONG Piedosa”. Mas somos por vezes piores do que isso, enquanto submetemos nossos fiéis a nossos caprichos, horários “comerciais” e negando (não poucas vezes com desculpas mentirosas) um mais dedicado atendimento e serviço. Quantas reclamações ouvimos de pessoas que buscam pelos Sacramentos e não conseguem ser atendidas. “Ir à periferia de nossas Comunidades” significa disponibilidade, solicitude, “gastar-se pelo Reino de Deus através de maior qualidade no exercício de nosso ministério ordenado. Também nossos Agentes de Pastoral carecem de maior espírito de acolhida, menos discriminação e emissão de juízos. Quantos coordenadores se sentem donos de seus coordenados, pensam ser insubstituíveis, quando deveriam ser servidores de toda a Comunidade, especialmente dos mais fracos!?!
Ouvindo a palavra de Deus, contemplemos a ação do Espírito Santo. Ele ilumina os desafios pastorais que enfrentamos, orienta nossas comunidades a fim de serem sinais do mundo novo e nos recorda tudo o que Jesus ensinou.
A comunidade deve saber discernir o que é fundamental e o que é secundário, passível de mudança. Se vivemos as palavras de Jesus, seremos amados por ele e o Pai celeste fará morada em nós. À medida que se diviniza, a comunidade pode dispensar as mediações humanas.
Qual a herança que melhor demonstra o cuidado e amor que as pessoas dedicam umas às outras? Certamente não se restringe apenas a bens e valores. É certo que a melhor expressão desse bem-querer tem a ver com a própria vida (palavras ensinadas, testemunhos deixados, atitudes, etc.) que, ao ser empenhada em favor daqueles que nos são valiosos, se torna digna de menção e memória das gerações futuras.
Nesta perspectiva, a herança mais preciosa que as comunidades cristãs conservam é a própria morte e ressurreição de Jesus, sua Páscoa, pois ela não é outra realidade senão o cumprimento mais significativo ao Amor do Pai.
A ação do Espírito Santo na Igreja permite-lhe manter viva esta memória, de modo que a herança deixada pelo Senhor não se perca. Em épocas de calamidade ou grandes dificuldades, não é novidade que os cristãos se mobilizam para ajudar aqueles que padecem dificuldades. Quantos homens e mulheres se disponibilizam, por exemplo, a ajudar na reconstrução de Moçambique e o fazem em nome da fé que professam! Esta, dentre outras ações, é uma maneira de manter guardada a herança que o Senhor nos legou.
Em nossas comunidades, as pastorais, os movimentos e as demais forças eclesiais são impulsionados pelo Espírito para que mantenham viva a memória do Ressuscitado. Ao tornarmo-nos homens e mulheres pascais, permitimos que a herança deixada pelo Senhor não se perca.
A Liturgia celebrada nesta semana traz consigo um sabor de despedida. As leituras proclamadas em nossas celebrações nos remetem ao Senhor que prepara os seus discípulos e discípulas para a sua volta ao Pai, no evento da Sua Ascensão. Saibamos inscrever em nosso coração a Palavra de Deus que se nos é proposta com o compromisso de sermos “Sal da terra e luz do mundo”!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler At 15,1-2.22-29; Sl 66(67); Ap 21,10-14.22-23 e Jo 14,23-29).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Maio de 2019, pp. 86-89 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo Pascal (Maio de 2019), pp. 46-49.